Anita Garibalde Ramos Carneiro: A Lira VI de Agosto e a Festa do Bom Jesus de Pé de Serra

Vou começar ressaltando que o que escrevo é o que penso, e como dizia o grande filósofo João Grilo, "todo penso é torto", peço que relevem os meus "tortos penso" caso discordem.

A Lira VI de Agosto, nasceu em 03 de agosto de 1924, com o objetivo de animar a Festa do Bom Jesus do Pé da Serra, não precisando assim que se trouxesse uma Banda de Música de fora como se fazia.

Por ter sua fundação ligada exclusivamente à essa festa, foi batizada inicialmente com o nome de Terno União 06 de agosto (1924) e depois Lira VI de Agosto (1969). E desde 1990 até então, Associação Comunitária Cultural e Musical Lira 6 de Agosto: uma ONG com estatuto e diretoria.

Tocavam nas novenas de 03 a 05 (a noite da Lira era dia 03); antes, durante e depois da Missa do dia 06*; a entrega da bandeira dia 07 **; os leilões dos dias 05 e 06***; a Coleta do Bando no dia 06***; as alvoradas e as lavagens dos dias 05 e 06****; e em alguns anos, na Procissão do dia 06*. Ainda em tempos remotos, tocavam também outros Leilões que a Igreja fazia na Páscoa e em 31 de maio, cuja renda era para a Festa do Bom Jesus.

Durante 70 anos, até 1995 a participação da Lira VI na Festa do Bom Jesus era exatamente como citei.

Inicialmente os músicos não recebiam pagamento algum para tocar a Festa, mas era a Igreja que mantinha a entidade custeando as despesas com instrumentos, uniformes e tudo que precisavam. Ao final da festa eram recompensados com uma confraternização de comes e bebes.

Quando o Sr Raulindo foi Presidente da Festa, optou por ao invés de oferecer a confraternização, gratificar financeiramente cada um dos músicos e assim ficou mantido. Também a Lira VI começou a tocar festas religiosas e outros eventos pelas redondezas e optou-se por desligar-se da Igreja tornando-se uma entidade independente. Mas foi mantida a tradição de animar a Festa de Bom Jesus, sendo pagos para tal.

Nos últimos 10 anos, a Festa do Bom Jesus veio sendo modificada pela adequação dos tempos... E a necessidade e participação da Lira VI foi sendo reduzida até ser aniquilada... Houve até desentendimentos sobre valor de contrato.

E é relacionado a isso que vou expressar minhas opiniões e algumas questões:

Sobre a posição da Igreja Católica:

Se a Lira VI, nasceu para a Festa do Bom Jesus, porque a Festa do Bom Jesus excluir de todo a Lira VI? Sei que a Festa mudou muito e concordo com muitas mudanças do ponto de vista religioso e pela adequação ao tempo; hoje não há mais festas de largo, pois se faz desnecessário que a Igreja promova diversão e entretenimento como antes... Mas seria lindo uma igreja mãe receber seus filhos que viajam mundo a fora levando a alegria de sua música deixando-os tocar um pouco em frente à sua casa para seus outros filhos prestigiarem... Aliás, muitos dos músicos que tocam nas liturgias da Paróquia Bom Jesus atualmente, são crias da Lira VI! E uma mãe é sempre grata pela educação que seus filhos recebem.

Existem pessoas tidas como influentes na Igreja que desgostam da Lira VI... Algumas por ignorarem sua história e seu valor, e outras por lhe faltarem gosto cultural mesmo.

Mas penso que a Igreja Católica de Pé de Serra deveria reconhecer e valorizar essa entidade que muito já fez e deu bons frutos tanto para a própria Igreja tanto para esta terra do Bom Jesus!

Sobre a posição da Lira VI:

Sei que os integrantes são profissionais da música, que são muito bem remunerados para tocar em outros eventos e outras cidades (inclusive muitas festas de padroeiros), mas seria prejuízo para os mesmos se tocassem gratuitamente na Festa para a qual nasceram?

Um aniversariante não pode dar uma festa de aniversário aos seus amigos? Os bons profissionais não poderiam oferecer seu trabalho talentoso a seu povo sem que para isso tivessem que ser remunerados? A única valorização que importa é a financeira? E o aplauso amoroso? E a emoção calorosa dos que sabem que vocês são bons e mui bem tratados lá fora não é digna de vossa retribuição?

Ah Lira VI de Agosto! O povo pé-de-serrense os ama!

Creio que se vocês promovessem eventos, concertos, bailes, claro que com ampla e antecedente divulgação o pé-de-serrense os prestigiaria felizes! Já até ouvi de alguns, que se fizessem tais promoções aqui que o povo não valorizaria... Bem, eu não recordo de que isso já houvesse sido tentado, mas lembro de ouvir "ah se eu soubesse, teria ido ver"... E percebo ainda que em eventos tipo a Lavagem do Judas, que tem sua tradição mantida em uma data já carimbada ser muito prestigiada pelo povo...

Sugiro pedindo Lira VI de Agosto, faça o povo de Pé de Serra feliz! Toquem para nós... Eu sonho em assistir vocês tocarem no Palco Tony Magno... rs

Preciso dizer que eu desconheço o Estatuto da Lira VI e que venho a acompanhando, conhecendo e a admirando cada vez mais apenas depois que Ciane, minha sobrinha, ingressou na entidade e tornou-se minha flautista preferida... E que tudo o que escrevi aqui já tenho em mente há algum tempo, inclusive, dividia essas ideias com minha mãe. Mas esse esse ano, quando eu soube que a participação da Lira VI na Festa do Bom Jesus foi abolida, eu resolvi fazer essa publicação...

Sem intenção alguma de causar discórdias ou intrigas, mas de fazer tanto o povo da igreja, quando o pessoal da Lira VI, refletirem melhor sobre suas posições entre si e quem sabe dialogarem como irmãos, como pessoas de bem que são e preservarem as nossas tradições! As vidas humanas são passageiras e finitas, mas o amor, a história, e a cultura ficam para sempre na vida de um povo!

Com amor a minha Igreja Católica!

Com amor a minha Paróquia Bom Jesus!

E com amor pela Filarmônica Lira VI de Agosto, comemorando dia 03.08.2022, seus 98 anos de “(r)existência”!

VIVA A LIRA VI DE PÉ DE SERRA!

VIVA O BOM JESUS DE PÉ DE SERRA!