: Escrevo não porque sei, mas por gosto e impulso... E assim escrevo errado mesmo...

(E o conteúdo deste blog que não consta fonte, é de minha autoria...)

domingo, 15 de dezembro de 2019

Antonio Oliveira Rios, Toinho Funga – Por Anita Garibalde e Ciane Ramos

Fui convidada por Cecilia, para falar sobre Toinho Funga, no Juntos Somos Cultura 2019. No momento fiquei sem fôlego mas confiei que faria algo que não decepcionaria o Maestro. 
Texto surpreendentemente pronto, pensei: como falar de alguém que era 100% musical, sem música? Criei uma trilha sonora para meu texto e pedi a Ciane Ramos para tocar tal trilha. E, ela aceitou mais um dos N’s desafios que já havia dito sim para o evento. 
Intencionava publicar o texto, mas depois de ter apresentado, percebei que a participação de Ciane tornou-se tão importante quanto o texto em si... Assim, valendo-me do registro que Marta fez, aí está uma tentativa de resumo do texto e o vídeo do que foi apresentado em 13.12.2019 no Clube Varanda: 

A missão aqui agora será falar sobre alguém com quem pouco convivi, mas que muito admirei e valorizo. E farei isso bem melhor com a ajuda de Ciane Ramos... 

A primeira frase que na minha infância, em minha casa, ouvi a seu respeito foi “Toinho, meu irmão.”, muito falada por seu irmão, também Antônio e também amante da música..., mas ele já havia nascido desde 02 de dezembro de 1939... 

O pai dele também gostava de música, tinha até uma flauta doce; e enquanto seu pai saia pra trabalhar, Antônio, já amante dos sons, pegava escondido essa flautinha para treinar soprar e aprender, depois com todo cuidado, lavava e guardava para que seu pai não desconfiasse. 

Um dia que seu pai necessitou vir em casa durante o horário de trabalho, flagrou o tocador às escondidas. Mas o pai não ralhou com a criança, apenas pediu que a usasse com cuidado e assim que pode, comprou uma outra flauta, e deu-a a Antônio! 

De 1953 a 1955 ele frequentou a escola, para aprender ler direitinho. Mas em 1956, entre 15 e 16 anos, já deixou a escola e começou a admirar um grupo de rapazes que tocavam violão e cavaquinho. Desejou possuir um cavaquinho. Foi conversar com o pai e o avô que lhe aconselharam vender um carneiro para satisfazer seu desejo; assim foi feito. E todo fim de tarde, lá ia Antônio para casa de um tio aprender a formar tons, e em poucos dias já havia decorado todos. Era o Toinho do Cavaquinho! 

Abril de 1958 ele começou a estudar música com o Maestro José Rodrigues Alves vindo de Riachão do Jacuípe, entre as tardes de sábado até as manhãs das segundas feiras. E eis que Antônio surpreendeu e encantou seu professor com o seu desenvolvimento no aprendizado. Quando já estavam finalizando as lições de solfejos, Antônio quis desistir, mas o Mastro José o admirava e estimava tanto, que foi até a casa de Antônio tomar as lições que lhe faltavam. 

E em 1963, com 24 anos, Antônio já fazia partituras, tocava e ensinava música aos seus colegas da Orquestra Aliança. 

Em 1959, um amigo vizinho de Antônio comprou um acordeom e logo soaram os primeiros acordes nesse instrumento recém-chegado ao mundo de Antônio. Mas ele ficou fora do grupo dessa vez. 

Entretanto, não desistiu dos estudos musicais. Toda revista que lhe caia nas mãos era esmiuçada em busca de algo relacionado a “livro sobre música” e até o endereço da Irmãos Vitale editora musical ele conseguiu! Começou a comprar livros, Solfejos, Teoria moderna de música do Maestro Gaó Gurgel, Regência, de Rui Botti Cartolano, Curso completo de teoria musical e solfejos, de Belmira Cardoso e Mario Mascarenhas, e por último Método completo de divisão musical de Pasquale Bona e apêndice de Carlo Pedron. (A Irmãos Vitale ainda existe, bem como todas as publicações que aqui citei encontram-se disponíveis ou para venda na internet). Antônio, autodidata intelectual da música, mais do que suficiente para seu contexto histórico e social, mais do que suficiente para ser Maestro! 

E em 1987, ele tornou-se nosso primeiro, Professor de Música e Maestro Municipal e teve sob sua responsabilidade formar e reger os integrantes da Lira VI de Agosto. O que foi ponto de partida para seu maior legado: a formação musical de incontáveis pé-de-serrenses sendo que hoje muitos são multiplicadores dessa cultura e dessa arte que tanto emociona: eu, não me garanto soprar uma nota musical, a emoção me roubaria a respiração... 

E ele foi Toinho da Sanfona sim... Tocou muito forró nesse Pé de Serra nosso, e fora dele. Em 1992 foi o sanfoneiro da Banda que seu irmão, Tony Magno formou para uma turnê e teve um trabalho danado para fazer Tony cantar Assum Preto com a melodia de Assum Preto, e não com a melodia de Asa Branca! 

Lá pelo final dos anos 80 e início dos anos 90, minha mãe estando à frente da Igreja, conseguiu um livro de partituras de cantos litúrgicos para as celebrações, mas não tinha o áudio desses cantos... “Já sei o que vou fazer” – disse ela. Saiu de casa e foi direto na Oficina de Bicicleta de Toinho Funga que ficava nos fundos da casa dele. Explicou a ele sua necessidade e pediu: “O Senhor pode tocar os solos e gravar nessa Fita (K7) para a gente ouvir e aprender?” ele; “Toco no sax, serve?” – minha mãe: “Ótimo! Quando posso vir pegar? – “Amanhã...” – Respondeu cheio de prazer com arrastado na voz. E assim, ouvindo o sax de S. Antônio, aprendemos umas 10 músicas litúrgicas... 

No ano de 1999, quando minha mãe, Méria Ramos Carneiro foi registrar sua composição sobre Pé de Serra, a documentação exigida pelo Escritório de Direitos Autorais para registro de uma obra musical incluía uma gravação do áudio e uma partitura. Óbvio que só havia um caminho a seguir por Méria: o da oficina de bicicleta de Toinho Funga, que prontamente pegou seu gravadorzinho, para registrar Méria cantando sua composição e nela poder trabalhar; escreveu a partitura da melodia e ensaiou bastante até sentir-se confiante para tocar em seu acordeom e gravar a Fita Demo (K7) para que fosse enviada juntamente com as demais exigências da Biblioteca Nacional. E foi ele quem ensinou para minha mãe que o nome dele deveria estar como “musicógrafo” e lá se foi e consta: Hino Histórico de Pé de Serra, LETRA e MÚSICA: Méria Ramos Carneiro, MUSICOGRAFIA: Antônio Oliveira Rios (Com acordeom), dedicada à Tony Magno, sob o Registro 190.296 de 06.01.2000 / Escritório de Direitos Autorais. 

Senhor Antônio era amante de outras artes, entre essas a Literatura de Cordel, e recordo-me de seu envolvimento com nosso tradicional Judas e seu “Testamento” ... 

Andando em um frágil corpo, foi um grande homem! 
Músico, compositor, multi-instrumentista e maestro! 
Regia linda e enormemente! Como crescia com uma batuta na mão! 
Humilde, recordo-me dele tocando até zabumba, enquanto regia... 

A regência do maestro aqui na terra encerrou-se em 04.11.2019, mas não sem antes reunir uma massa de músicos pé-de-serrenses... alguns silenciosos que conduziram seu ataúde, outros tocando instrumentos que chorosos deixaram-se seguir pela última vez a sua regência... No momento final, um grupo de alunos, familiares, amigos e fãs, recusaram-se a ouvir o barulho da terra caindo e uniram-se a voz do sino da capela cantando Vida de Viajante, outras canções de Luiz Gonzaga, um dos ídolos de Toinho, e ainda Canções de seu irmão Tony Magno... 

Maestro Antonio Oliveira Rios, Toinho Funga! 

Conhecido e reconhecido por muitos e em diversas cidades vizinhas, dentre as quais Ichu, terra de minha mãe, Riachão do Jacuípe, Mairi e outras mais... 

E acabou? Não! Jamais será esquecido pelos que valorizam a arte que Toinho tanto amou e vivenciou: música! E é com música que ele deve ser honradamente lembrado! Que a música que ele ensinou unifique quando todo e qualquer motivo separe! 

O que apresentei aqui é pouquíssimo em relação ao tudo que Seu Antônio foi, fez, viveu..., mas repito, a minha convivência com ele quase não existiu... Então, eu coletei, reuni e apresentei o que encontrei e julguei ser relevante, memorável e prazeroso... 

Boa parte dos detalhes que eu contei sobre Seu Antônio, retirei de uma xerox de um manuscrito de 13 páginas, com a caligrafia de Adjaelmo, sem data, fruto de um trabalho estudantil que conta a História da Lira VI de Agosto, que Dja teve a honra de ouvir do próprio Seu Antônio e que agora eu, ousadamente torno público... Esse manuscrito caiu em minhas mãos, para que eu o digitasse e eu apenas o guardei, e em meio aquelas arrumações de papel velho, reencontrei e digitalizei... 

Para encerrar minha fala, eu vou pedir um grande aplauso, regido em nossos corações, por nosso imortal Maestro, Toinho Funga... 

No vídeo da apresentação Ciane que tocava com Filarmônica deixa seus colegas e sobe ao palco para me acompanhar...


A confecção e publicação desse texto nas redes sociais que utilizo pode também ser uma retribuição não tão programada do poema que Rildo compôs sobre minha mãe...

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